quinta-feira, junho 16, 2011

Olhai os lírios do campo - 15 de junho de 2011


Mateus 6:32 - (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;

Estamos em pleno Sermão do Monte, onde Jesus, em sua primeira palavra, descreve o cidadão
do reino: seu perfil psicológico (5: 1-12), sua missão (13-16), sua justiça (17-48) sua devoção —
esmolas, oração e jejum (6: 1-18); e agora está culminando, com seu desprendimento das coisas
materiais, sem o qual, o cristão não pode servir a Deus corretamente.
O argumento é de que onde está o teu tesouro ali está o teu coração Para discernir isto, Jesus
sugere os olhos como critério. Repare onde eles mais pousam, e saberá que aí está o teu
coração e o teu tesouro. E não adianta argumentar que consegue "administrar" diversos
interesses. Jesus descarta essa possibilidade com a figura dos dois senhores. Não podemos
servir aos dois.
Três Lições
Depois de todo esse contexto, Jesus chega ao cerne de sua argumentação sobre a ansiedade,
culminando com a afirmação de que os gentios é que procuram todas essas coisas. Fica claro
que ele está dizendo que aqueles cidadãos do reino, que ele vem descrevendo desde o início de
seu sermão, não se preocupam com essas coisas, pois compreendem e têm fé em, pelo menos,
três fatos, que gostaríamos de trazer para nossa reflexão.
1. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a vestes?
Quantas vezes não sacrificamos a vida pelo alimento, e o corpo pelas vestes? Quantas vezes nos matamos de trabalhar para obter aquela estabilidade, aquela segurança, materializada na
casa, no carro, nas jóias, nos dólares (para algum imprevisto), no guarda-roupa, na poupança?
Quantas vezes adultos não têm prejudicado seus filhos com um segundo emprego, que lhes trará
conforto e uma folga no orçamento, quando, na verdade, não precisamos, absolutamente dele,
para viver dignamente? Quantas vezes não temos tornado nossa vida familiar "um inferno", de
tanto buscar o status que aquele jantar caro, aquele eletrodoméstico da moda pode nos dar?
Quantas vezes já não usamos o dízimo, ou aquela oferta que entendemos que seria destinada ao
Senhor, para buscar esse status? Quantas vezes já não adiamos uma contribuição porque
precisávamos de um bem ou de um conforto?
A vida vale mais que essas coisas? então porque "matamos" e nos deixamos matar por elas? Por
que sua vida ficou tão complicada que você não tem mais tempo para viver? Não tem mais
tempo para amigos, irmãos, parentes, cônjuge, filhos? Há quantos anos você vem dizendo que
vai sair dessa roda-viva? Não estará se enganando?
Quando você disser: agora sim; alguém poderá lhe dizer: Louco, esta noite te pedirão tua alma, e
o que tens juntado, para quem será? (Lc. 12:20)
— Mas estou investindo no reino!, pode argumentar o jovem hiperativo.
Louco! O reino não sobrevive à custa de família, de destroços de relações, de ataques cardíacos,
de remédios para dormir etc.
Prezado leitor. Quanto inferno temos construído em nossas vidas, porque não soubemos colocar
a vida acima dos alimentos e o corpo acima das vestes.
2. Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?
De novo o argumento da vida, mas aqui, falando de acrescentar alguma coisa à vida: acrescentar
vida à vida.
Será que sua ansiedade, seu estudo, seu trabalho extenuante e excludente podem acrescentar
vida à vida? Qualidade de vida à sua vida? Os gentios dizem que sim. Os gentios dizem que com
aquele apartamento você tem mais vida; o lugar da vida é na Av. Vieira Souto, ou na Paulista, e
não em Vila Isabel, ou no Bexiga. Vida mesmo, dizem, tem Passport, e não Drurys; vida está
associada a ecologia (agora que os donos da vida esgotaram seus recursos), liberação dos
dogmas e atrasos, da disciplina (exceto malhação, que está na moda). Vida está ligada a uma
profissão liberal, e não à pública, burocrática; vida está ligada a viagens, turismo, hotéis, lugares
exóticos, coisas raras, antiguidades, e coisas que somente o dinheiro pode comprar. Vida, enfim,
é sucesso! E se você não vive assim, você é um mortão. — Defuntão!
Será que não há vida possível numa casa de palha?, num barraco? num ônibus lotado? numa fila
de INPS? num prato de carne seca com farinha? num balcão de repartição?
Cuidado, porque os gentios é que dizem todas essas cousas.
Talvez valha a pena uma ressalva. Não quero dizer, com isso, que para ter vida, é preciso ser um
"lascado", um pobretão. Não quero dizer que almejar um bom emprego, e estudar firme para isso
seja contrário ao ensino de Jesus. De jeito nenhum. Quero dizer que isso tudo não deve e não
pode se transformar em senhor, na vida do crente. Nem em critério de sucesso, nem em
sinônimo de vida. Muito menos se deve pensar que nessas realizações se encontra a paz. Não, a
paz não está aí, mas na confiança no senhorio e providência de um Pai que cuida dos lírios do
campo.
3. Vosso Pai sabe que necessitais de todas elas
Nesse momento de seu discurso, Jesus passa a demonstrar que a diferença entre a postura do
gentio e do filho de Deus consiste, basicamente, numa confiança profunda deste último, em
relação à providência do Pai. Sem essa confiança, não é possível vencer a ansiedade, chamada
de "ansiosa solicitude pela vida".
O fato de sabermos que nosso Pai sabe de nossas necessidades só tem sentido, se crermos que ele pode e quer nos dar aquilo de que temos necessidade. E aquele que crê, descansa.
Mais que isso: aquele que descansa, já não tem aquela necessidade quase doentia de buscar
essas coisas como se elas fossem fonte de segurança e significado para a vida. Quando o
emprego, os cargos, os bens, o sucesso, o prestígio etc. nos chegam, sabemos que não são
para nos fazer felizes e realizados, mas para contribuir com o reino de Deus. Já não são um
deus, um ídolo que drena toda a nossa energia espiritual.
A recomendação de Jesus é clara: buscai em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça e todas
essas coisas vos serão acrescentadas. Ao entendermos isso, percebemos que não vale apena
trocar tempo com família por dinheiro, a não ser que seja para sobrevivência; não vale apena
ficar com a oferta, ainda que descubramos que Deus não é vingador; não vale a pena o sucesso
à custa do divórcio, da separação dos pais, do isolamento dos amigos, da freqüência à igreja, da
devoção diária; não vale a pena o carro novo, o apartamento novo à custa de ansiedade com
juros e correção monetária; não vale a pena trocar sono por dinheiro. Sua paz não vale a
adrenalina da ansiedade. "Os gentios é que procuram tais cousas".
Olhe os lírios do campo. Inspire-se neles. E descanse.

RUBEN AMORESE

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